Entrevista - Eddie Van Halen
Postado em 12.10.2014 - tradução : DecoEntrevista: Eddie Van Halen fala sobre o disco "A Different Kind of Truth"
"The King" Eddie fala sobre A Different Kind of Truth e o
rejuvenecimento do Van Halen
Durante a primeira parte da turnê 'A Different Kind of Truth' do Van Halen, pouco antes de terminar o setlist do show, há um momento do solo de Eddie Van halen, onde o mundo parece parar para vê-lo tocar.
Mesmo os técnicos de som, seguranças e as pessoas da produção e backstage param tudo o que estão fazendo para focar nos sons celestiais emanados do palco, com grandes sorrisos em seus rostos que espelham os de Eddie enquanto despeja sua cascata de notas na guitarra. Em um ponto particular do solo de Eddie, fica claro que não há outro lugar no mundo em que ele poderia estar.
Estes momentos são memoráveis porque, não muito tempo atrás, isto parecia que não aconteceria novamente.
Na útilma vez que a Guitar World conversou com Eddie, em Outubro de 2009, em uma co-entrevista com Tony Iommi, Eddie disse: "Nós talvez possamos não gravar mais nada novo". Esta dura porém honesta declaração atingiu os fãs como uma tonelada de pedras, porque todos estavam imaginando um cenário de possibilidades, considerando que haviam se passado 5 anos desde que o Van Halen lançou algo novo e mais de uma década desde que a banda lançou um álbum inteiro novo.
Contudo, como todos nós sabemos, este não foi o caso. E em Fevereiro o Van Halen lançou o álbum 'A Different Kind of Truth', o décimo segundo álbum da banda e o sétimo com David Lee Roth nos vocais. Os fãs mais devotos logo reconheceram algumas músicas, como "Beats Workin'", "Big River", "Bullethead", "Outta Space" e "She's the Woman", que datam das gravações Demo gravadas pelo Van Halen antes do seu álbum de estréia.
Mas o álbum também oferece alguns sons totalmente novos, como "As is", "China Town", "Honeybabysweetiedoll", "Stay Frosty" e "The Trouble With Never", que são tão fortes quando qualquer outro som do catálogo do Van Halen.
O álbum trouxe a idéia de um balanço ideal entre o clássico real e o genuíno material novo, revisitando o passado da banda mas também pavimentando o caminho excitantemente em direção ao futuro.
A banda eventualmente foi forçada a cancelar algumas das numerosas datas de shows que eles marcaram para a Different Kind of Truth tour - como David Lee Roth explicou em um video postado no Youtube, a "programação de shows foi desviada por conta de desgastes desnecessários". Felizmente, contudo, nós tivemos a chance de passar mais alguns dias na estrada como grupo, especialmente com Eddie.
Falando com ele, ele não parece diferente do Eddie que sempre conhecemos, porém sua atitude está mais esperançosa e otimista. Ele certamente experimentou a sua parte dos dias negros por mais de uma década, desde os problemas com o álcool até a recente batalha contra o câncer. Mas parece que ele superou todos estes problemas para então aproveitar boa e verdadeiramente a vida, graças ao dedicado suporte dos amigos e familiares.
O que é realmente impressionante sobre Eddie hoje é como ele administrou a superação dos elementos negativos em sua vida, controlando-os enquanto abandonava o controle que ele sempre segurou nos ombros, sobre a banda.
Ao invés de sentar sozinho no assento e dirigir a banda, Eddie agora deixou Wolfgang - seu filho, e agora baixista do Van Halen - para assumir a liderança no estúdio e nos ensaios. Agora sem todo esse peso nas costas, Eddie agora está livre para se concentrar em tocar a sua guitarra, escrever músicas, e fazer novos desenvolvimentos de equipamentos.
Enquanto durar, Eddie Van Halen está de volta, e melhor do que nunca.
Guitar World: Na última vez em que conversamos, você disse que não estava certo se consideraria lançar um novo álbum do Van Halen. O que fez você mudar de idéia?
Eu acho que eu estava p*** naquela época. Eu não queria fazer nada novo porque eu sentia que se fizéssemos, os fãs não iriam gostar de qualquer forma. Mas então nós acordamos para o fato, e dissemos: "Hey, nós estamos fazendo isso por nós mesmos também. Isto é o que sabemos fazer e é o que fazemos. Nós fizemos da música as nossas vidas. Como eu sempre digo, se você gosta do que está fazendo, você está quase lá. Se alguém também gosta, isso é ainda melhor. Se eles não gostarem, pelo menos você gostou. Não querendo ser egoísta, mas você tem que ser ao menos um pouco.
Guitar World: O que manteve a bola rolando neste álbum?
O estusiasmo de Wolfgang. Ele vinha com aquela atitude: "Vamos lá, vamos lá!" Nós entramos no estúdio 5150 e começamos a fazer Jams. Nós nos sentimos confortáveis como em um velho par de sapatos. Trabalhando com Dave novamente era como se nunca estivéssemos separados um do outro. Era uma sensação de conforto. Nós conhecemos um ao outro desde os tempos da escola. Quando você tem amigos, cinco ou seis anos podem se passar onde vocês não vêem um ao outro, mas então você consegue continuar de onde parou.
Nós começamos a gravar no estúdio na minha casa apenas com Alex, Wolfgang e eu. Basicamente da mesma forma que começávamos qualquer gravação antes. Nós então trouxemos dos nossos arquivos algumas coisas que havíamos escrito no passado. Wolfgang pegou algumas delas. "She's the woman" foi a primeira. Nós começamos então a brincar sobre estes sons como "She's the woman" e "Bullethead" e então reformulamos eles. Dave estava no mesmo barco conosco desde o começo. Quando ví, eu já estava gravando e editando as demos de "She's the woman", "Bullethead" e "Let's Get Rockin'", que agora é "Outta Space". Eu mandei alguns dos arquivos do Pro tools para Dave, que estava trabalhando nos estúdios Henson, onde ele gosta de gravar, e deixamos ele totalmente excitado. Ele disse: "Vamos em frente!"
Guitar World: Porquê você escolheu John Shanks (Bon Jovi, Fleetwood Mac) para produzir este álbum?
A parte mais dificil do processo é decidir onde devemos ou não devemos usar um produtor e quem usar. Nós tínhamos uma lista enorme de produtores. Desde que fizemos aquela entrevista junto com Tony Iommi (para o aniversário de 2010 da revista Guitar World), eu tenho contactado muito Tony. Sabbath está fazendo uma re-união também, e eles estão trabalhando com Rick Rubin. Eu não penso que Rick seria o produtor certo para o tipo de banda como o Van Halen, mas o seu nome estava sendo cogitado. Assim como Pat Leonard (Pink Floyd, Roger Waters, Maddonna). Dave não tem um estúdio em sua casa, assim ele ia sempre para o Henson estúdio para gravar, escrever e manter sua voz em dia. Um dia ele me contou que encontrou com um cara chamado John Shanks. Eu pensei que seria uma escolha estranha, mas ele estava apto para trabalhar. John me perguntou o que tínhamos. Eu então toquei para ele nossas três Demos, e ele adorou.
Na realidade foi de Wolfgang a idéia do álbum ser uma coleção de nossos sons lado B junto com três sons retrabalhados, que poderiam ser novos para nosso público. Ao invés de "Best Of" poderia ser "B's Of" - você sabe, músicas como "Drop Dead Legs", "Girl Gone Bad"...Poderia ser um álbum com mais do nossos sons hardcore e não aquele lado Pop. Este foi o plano inicial deste álbum, mas quanto mais mergulhávamos, mas coisas nós encontrávamos. Ao mesmo tempo eu estava escrevendo músicas novas. Dave ficou excitado sobre isso. Nós todos fizemos. Nós terminamos gravando Demos para cerca de 35 músicas. Todas estas músicas estavam então prontas, e nós também já estávamos prontos para tocá-las.
Nós então chamamos John novamente e perguntamos: "Você está ocupado? Você pode vir até aqui e escutar o que temos?" E ele disse algo como: "Uau ! Vocês tem muita munição aqui!" Nós deixamos John e Wolfgang livres para escolher as músicas, e então tudo começou a partir daí.
Guitar World: Para o novo álbum, Wolfgang pescou alguns sons da banda do passado, que é algo que o grupo tem feito nos álbuns anteriores. Por exemplo: no Fair Warning, a banda estava trabalhando em um material como "Mean Street" / "Voddoo Queen", que vinham de Demos que vocês gravaram antes do primeiro álbum ter sido lançado.
Nós temos feito estas coisas muito antes. "Seventh Seal" (do álbum Balance) é uma música que eu escreví antes mesmo do Van Halen se tornar uma banda. "Hang 'Em High" (do álbum Diver Down) foi escrita pouco antes de lançarmos o álbum.
O mesmo com "House of Pain" (do álbum 1984), que também era das Demos que gravamos em 1976 com Gene Simmons.
Nós trabalhamos estas gravações assim como qualquer outro artista. A Internet é que mudou tudo, Agora todo mundo sabe de onde vieram as coisas. Antes da Internet, ninguém saberia que estas músicas foram gravadas porém nunca lançadas oficialmente. Quando este álbum foi lançado, algumas pessoas estavam dizendo que nós propositalmente trouxemos ao público velhos sons para relacionar ao nosso clássico som antigo. Mas as gravações não foram planejadas dessa maneira.
Onde quer que fôssemos fazer um álbum, a primeira coisa que iríamos fazer sempre seria vasculhar o que temos na mochila que poderíamos pegar, e então dar continuidade neste foco e escrever um novo material.
Quando nós estamos de folga, eu fico pensando e fico espantado como estes sons soam frescos e novos. Eu pensava algo como: "Nós realmente escrevemos isso naquela época?" A grande viagem é que eu gravei alguns desses sons quando eu ainda estava no colégio e até no ginásio. Uma boa idéia é sempre uma boa idéia, não importa quando você a teve.
Guitar World: 5150 tem sido a sua segunda casa há décadas. Como se sentiu trabalhando em um estúdio diferente?
Foi uma experiência prazeirosa, mas eu sentia falta de trabalhar em casa. Eu uso os monitores no 5150. Depois de trabalhar no Henson nós tivemos que refazer todas as guitarras e baixos no 5150 porque eu não conseguia ouvir no Henson do modo que eu costumava fazer. Foi o mesmo quando Ross Hogarth fez a mixagem. Ele tentou fazer tudo no Henson, mas ele não conseguia ouvir os sons apropriadamente também, assim nós mixamos no 5150 também.
O processo de se fazer uma gravação é muito simples. Isto leva talvez três semanas para gravar as faixas instrumentais. Nós tocamos ao vivo e super ensaiados. Nós fazemos alguns pequenos ajustes aqui e ali, mas tudo está quase completamente ali. Parte do problema no Henson foi que eles estavam gravando tudo através do sistema CLASP tape em conjunto com o Pro Tools. Com o CLASP, a máquna de gravação apenas fica girando e girando, te dando uma idéia de som análogo, mas eu não me lembro de ter visto alguém limpando ou alinhando os cabeçotes da máquina de gravação uma vez sequer. Tudo terminou soando como se estivesse um saco sobre eles. Quando eu peguei tudo e fui ouvir em casa, eu pensei: "Há algo muito errado aqui". Alex, Dave e Wolfgang vieram ao 5150 e concordaram que tínhamos um problema.
Guitar World: Como Wolfgang se adaptou a trabalhar em um estúdio diferente?
Era muito bom vê-lo trabalhar em um estúdio profissional, com um produtor, realmente fazendo as gravações, o que era diferente de vê-lo trabalhar no 5150. Ele estava tocando o gado com a corneta. Ele tinha muito a dizer. Eu ficava chocado com as grandes idéias que ele tinha, e ele tinha opiniões fortes. Ele veio com o arranjo pronto para "Stay Frosty". Quando Dave escreveu este som, era apenas um som acústico como é a sua introdução hoje. Wolf a transformou no que ela é hoje. isso foi interessante de assistir, especialmente com John produzindo. Eu penso que ele realmente ficou intimidado por um garoto de 20 e poucos anos lhe dizendo como as coisas poderiam ser feitas. Nós sabemos tudo sobre a estrutura dos sons, das músicas, assim basicamente tudo o que precisamos é de uma opinião de um ouvinte de fora. Eu penso que John costuma fazer gravações onde ele praticamente tem que decidir tudo para os jovens artistas que ele produziu, o que inicialmente foi o que me pareceu ser uma escolha estranha ao escolhê-lo.
Wolf jogou para John uma bola curva. Ele ficou chocado, assim ele tendeu a trabalhar ao meu lado, mas eu disse: "Ele (Wolfgang) é um membro da banda. Você precisa lidar com ele também". Quando eu tocava os meus solos, eu saía da sala e deixava Wolf e John escolher as melhores gravações. Algumas vezes eu ouvia Wolf brigando com John, o que era divertido. Era um orgulho para mim ver Wolf defendendo no que ele acreditava ser o correto a ser feito. Ele dizia a John qual parte ele pensava estar melhor, e John apenas sentava e dizia: "Okay".
John é um grande cara. Nós não estivemos o tempo todo com ele quando trabalhou com Dave nos vocais, porque Dave prefere trabalhar à noite e nós gostamos de trabalhar à partir do meio dia. Naqueles dias, eu acordava as seis da manhã. Se nós trabalhássemos à noite, eu estaria pronto para ir dormir. Nós não estávamos presentes quando uma grande quantidade de vocais foram gravados, mas eu penso que Dave e John fizeram um ótimo trabalho.
Guitar World: Isto deve ser um alívio para você poder abrir mão de um pouco do controle sobre a banda para Wolfgang. No passado você estava inteiramente responsável por tudo.
É um alívio em muitos pontos de vista, especialmente desde a primeira gravação que eu fiz sóbrio, e eu estava nervoso. Eu estava grato por Wolfgang preferir fazer dessa forma. Eu disse: "Vá em frente!" Eu estava nervoso demais! Por quê? Só Deus sabe. Eu continuo nervoso a cada noite antes de subir em um palco. Isto te mantém sobre os seus pés.
Guitar World: Nesta turnê vocês mudaram as coisas um pouco, trazendo à tona alguns sons que vocês não tocavam já a algum tempo e ao mesmo tempo mudando o setlist.
Isto é coisa do Wolf também. Ele está no controle de escolher o setlist do show a cada noite.
Guitar World: Você não tocava algumas destas músicas há 28 anos ou mais. Você teve problemas em relembrá-las?
É por este motivo que nós fazemos o soundcheck todas as noites. Os próximos sons que nós estamos tentando trabalhar são "Light UP the Sky" e "As is". Nós escolhemos a hora certa para fazê-los. É divertido. Nós tocamos "Hang 'Em High" pela primeira vez durante o soundcheck. Esta música é estranha. Ela tem muitas mudanças, tem um monte de coisas acontecendo, e é rápida. Se você escorrega um pouco, a música toda já fica arruinada. Depois de conseguirmos, nós todos olhamos uns para os outros e dizíamos: "O que vocês acham? Podemos dar uma chance?" E Dave e as pessoas ao redor diziam: "Fuck yeah!" Vamos lá e vamos fazê-la!" Eu pensava sempre que Dave ia dizer não. Mas ele dizia: "O que de ruim pode acontecer?"
E então nós a tocamos magnificamente.
(entrevista original, em inglês)