Eu viajei com o Van Halen
Publicado em 30 de Abril de 2010.O
jornalista Roberto Navarro, (foto acima), foi convidado
pela banda para assistir ao final da excursão do Van Halen
pelos Estados Unidos, em Dezembro de 1980. Aqui ele relata os lances incríveis dos
bastidores que observou enquanto esteve por lá.
Jacksonvilee, Flórida, Dezembro de 1980. Show de encerramento da excursão mundial do Van Halen, que em sete meses levou a banda à Austrália, Japão, Europa e de volta aos Estados Unidos. A parte americana final eu acompanhei como convidado.
Havia conhecido David Lee Roth e Alex Van Halen em Outubro, quando vieram ao Brasil para dar uma sondada no mercado. Fiz uma entrevista com eles, ficamos amigos e pouco depois chegava um telex me chamando para viajar com o Van Halen. E agora eu estava lá, no último concerto dessa trip maluca pelo mundo do rock and roll.
O show, na verdade, era o que menos interessava. Tocando sempre em arenas e num volume altíssimo, o grupo fazia ao vivo um som embolado e cheio de reverberação, onde mal era possível ouvir os solos incríveis de Eddie. Isto, apesar da enorme quantidade de equalizadores e outros equipamentos que os técnicos de "Showco" usavam ligados à mesa. Verdade seja dita, a voz de Dave era superaudível, cortando a parede de ruído como uma faca. E, pra garotada de 13, 14 anos que ia ver o Van Halen, Dave provavelmente prendia mais a atenção do que o próprio Eddie. Não só pelo visual e movimentação no palco, mas também por sua capacidade de captar a energia da platéia e devolvê-la amplificada, criando um clima delirante.
"Fuck Iran! Apenas uma troca de energia."
Em um dos shows, alguém abriu uma faixa escrita "Fuck Khomeini" (os americanos viviam a paranóia dos reféns presos no Irã pela revolução islâmica do Aiatolá Khomeini). A faixa foi jogada no palco, indo parar nas mãos de Dave, que imediatamente fez um rápido discurso contra os iranianos, acabando por liderar o público numa demonstração civico-patriótica, em que todo mundo erguia o punho fechado e gritava "Fuck Iran! Fuck Iran".
Mais tarde, perguntei a Dave se aquilo significava uma posição política dele ou da banda. Ele disse: "Não sei nada de política, por isso não me meto com ela. O que você viu foi só uma troca de energia. Eu percebí uma coisa que a platéia estava sentindo e fiz com que ela extravasasse.
Nos hotéis por onde passávamos, o quarto de Dave era o centro de toda a agitação. Equipado com um potente equipamento de som portátil, ele promovia altas festanças, que começavam à tarde e só eram interrompidas na hora de ir para o show. Eddie Van Halen, em compensação, estava sempre meio apagado. Curtindo seu casamento recente com Valerie Bertinelli, uma modelo e atriz de TV, (fotos 01 e 02) ele circulava rapidamente por essas festas, e mantinha a maior distância possível das "groupies".
foto 01 foto 02
Tímido, preferia passar os dias com uma guitarra a tiracolo, tocando sem parar. Uma hora antes dos concertos começarem, ele se trancava na sala de afinação, que era montada nos bastidores, e só saía de lá depois de ter certeza de que estava tudo em ordem com seus instrumentos.
"Metamorfose no palco"
Apesar de toda a badalação em torno do seu nome (havia acabado de ser escolhido mais uma vez o "guitarrista do ano" pela imprensa especializada), Eddie evitava qualquer tipo de estrelismo. Simples e acessível, ele estava sempre disposto a bater um papo e mostrar alguma coisa que havia acabado de inventar na guitarra. Uma noite, quando o hotel em que estávamos teve de ser evacuado por causa de uma ameaça de bomba, fui encontrar Eddie recostado tranquilamente num carro de polícia, ensaiando um fraseado novo.
Mas, quando subia no palco, Eddie se transformava totalmente. N fim da excursão ele devia estar uns quilos mais magros do que no início, de tanto correr de um lado para outro, subir nas caixas de som e se atirar no chão durante os solos mais ensandecidos.
No fim do último show, mais som. Os roadies da banda, que também eram músicos, montaram um palco nos bastidores e vararam a madrugada, tocando em uma animada "Jam session". Eddie apareceu brevemente, agradeceu a todos e saiu de fininho, apesar dos pedidos insistentes para que tocasse. Quando se retirava, cruzei com ele e perguntei se não ia ficar para comemorar o final de mais uma bem-sucedida excursão pelo mundo. Eddie sorriu e disse: "Depois de sete meses na estrada, eu só quero tomar um banho e ir pra casa".
(Fonte - Revista Rock Especial - Editora Som Três)
Jacksonvilee, Flórida, Dezembro de 1980. Show de encerramento da excursão mundial do Van Halen, que em sete meses levou a banda à Austrália, Japão, Europa e de volta aos Estados Unidos. A parte americana final eu acompanhei como convidado.
Havia conhecido David Lee Roth e Alex Van Halen em Outubro, quando vieram ao Brasil para dar uma sondada no mercado. Fiz uma entrevista com eles, ficamos amigos e pouco depois chegava um telex me chamando para viajar com o Van Halen. E agora eu estava lá, no último concerto dessa trip maluca pelo mundo do rock and roll.
O show, na verdade, era o que menos interessava. Tocando sempre em arenas e num volume altíssimo, o grupo fazia ao vivo um som embolado e cheio de reverberação, onde mal era possível ouvir os solos incríveis de Eddie. Isto, apesar da enorme quantidade de equalizadores e outros equipamentos que os técnicos de "Showco" usavam ligados à mesa. Verdade seja dita, a voz de Dave era superaudível, cortando a parede de ruído como uma faca. E, pra garotada de 13, 14 anos que ia ver o Van Halen, Dave provavelmente prendia mais a atenção do que o próprio Eddie. Não só pelo visual e movimentação no palco, mas também por sua capacidade de captar a energia da platéia e devolvê-la amplificada, criando um clima delirante.
"Fuck Iran! Apenas uma troca de energia."
Em um dos shows, alguém abriu uma faixa escrita "Fuck Khomeini" (os americanos viviam a paranóia dos reféns presos no Irã pela revolução islâmica do Aiatolá Khomeini). A faixa foi jogada no palco, indo parar nas mãos de Dave, que imediatamente fez um rápido discurso contra os iranianos, acabando por liderar o público numa demonstração civico-patriótica, em que todo mundo erguia o punho fechado e gritava "Fuck Iran! Fuck Iran".
Mais tarde, perguntei a Dave se aquilo significava uma posição política dele ou da banda. Ele disse: "Não sei nada de política, por isso não me meto com ela. O que você viu foi só uma troca de energia. Eu percebí uma coisa que a platéia estava sentindo e fiz com que ela extravasasse.
Nos hotéis por onde passávamos, o quarto de Dave era o centro de toda a agitação. Equipado com um potente equipamento de som portátil, ele promovia altas festanças, que começavam à tarde e só eram interrompidas na hora de ir para o show. Eddie Van Halen, em compensação, estava sempre meio apagado. Curtindo seu casamento recente com Valerie Bertinelli, uma modelo e atriz de TV, (fotos 01 e 02) ele circulava rapidamente por essas festas, e mantinha a maior distância possível das "groupies".
foto 01 foto 02
Tímido, preferia passar os dias com uma guitarra a tiracolo, tocando sem parar. Uma hora antes dos concertos começarem, ele se trancava na sala de afinação, que era montada nos bastidores, e só saía de lá depois de ter certeza de que estava tudo em ordem com seus instrumentos.
"Metamorfose no palco"
Apesar de toda a badalação em torno do seu nome (havia acabado de ser escolhido mais uma vez o "guitarrista do ano" pela imprensa especializada), Eddie evitava qualquer tipo de estrelismo. Simples e acessível, ele estava sempre disposto a bater um papo e mostrar alguma coisa que havia acabado de inventar na guitarra. Uma noite, quando o hotel em que estávamos teve de ser evacuado por causa de uma ameaça de bomba, fui encontrar Eddie recostado tranquilamente num carro de polícia, ensaiando um fraseado novo.
Mas, quando subia no palco, Eddie se transformava totalmente. N fim da excursão ele devia estar uns quilos mais magros do que no início, de tanto correr de um lado para outro, subir nas caixas de som e se atirar no chão durante os solos mais ensandecidos.
No fim do último show, mais som. Os roadies da banda, que também eram músicos, montaram um palco nos bastidores e vararam a madrugada, tocando em uma animada "Jam session". Eddie apareceu brevemente, agradeceu a todos e saiu de fininho, apesar dos pedidos insistentes para que tocasse. Quando se retirava, cruzei com ele e perguntei se não ia ficar para comemorar o final de mais uma bem-sucedida excursão pelo mundo. Eddie sorriu e disse: "Depois de sete meses na estrada, eu só quero tomar um banho e ir pra casa".
(Fonte - Revista Rock Especial - Editora Som Três)